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Faaaaaaala galera, aqui é Clayton Muniz e esse é mais um “O Leigo Viu”.

E hoje dia 14 de Novembro de 2017(foi quando vi o filme e "escrivinhei" a crítica), posso dizer que tive o prazer de ver um dos filmes mais aguardados do ano: Liga da Justiça...  Filme que provavelmente fará muito dindin nos cinemas do mundo, mas será que valeu a pena tanta espera? Vamos descobrir.  [SEM SPOILER]

Lembrando que eu sou, como diz o título deste epílogo, um leigo completo na matéria chamada cinema e falo do meu jeito, sobre o que vi, pra ajudar você a tomar suas decisões dentro de tudo isso, sendo você leigo como eu, ou não... então vamos lá!

O filme se passa depois de um tempo da morte do Superman, num planeta Terra debaixo de um temor de uma iminente cagada que possa acontecer a qualquer momento, e é óbvio que o Homem Morcego, sabe de tudo isso e está caçando provas dessa teoria. A película começa exatamente com esse momento, onde Batman (Ben Aflek) está tentando achar um caminho, dentro dessa escuridão de ideias que permeiam sua mente, sobre o futuro sombrio que o planeta pode vir a ter.

E... descobre. Começa então uma corrida contra o tempo, pois Steppenwolf (Lobo da Estepe ?????) é um novo deus (vide os novos 52 das Hqs) bem durão, que está vindo com tudo para dominar a Terra. Ele procura as três Caixas Maternas, para que o seu plano de domínio e preparação de caminho para seu sobrinho, Darkseid, chegar chegando, e passar o cerol na humanidade, se complete! E lá vão eles, Batman, Mulher Maravilha, Flash, Ciborgue e Aquaman (desculpem, não o coloquei por último de propósito, simplesmente aconteceu rsrsrsrsr) tentar parar esses intrusos alienígenas, hiper, ultra, mega, poderosos sem o Homem de Aço, o que torna tudo muito mais difícil...


Tirando a História principal, várias historinhas permeiam e ajudam a contar de forma bem leve e tranquila o ajuntamento de heróis para salvar o planeta (sim com muitas piadas, mas em nenhum momento vi pessoas reclamando no cinema, nem o mais feroz DCNauta) , e em momento algum, parece que o filme se tornará um Batman vs Superman, ou qualquer outro filme da franquia DC, ao invés disso, fica a sensação que estamos vendo algo parecido com os filmes da Marvel, mas não!!!!! É algo diferente ... parece, sim mas não é igual aos filmes da Marvel. As piadas são mais contidas e mais fáceis de serem aceitas pois sempre acabam entrando em um contexto um pouco mais aceitável... tirando uma ou outra cena, pois ninguém é perfeito... ainda mais a DC!

Dentro do filme mais leve e mais bem iluminado de todos até hoje do universo DC, é sim um filme menos Dark Night e muito mais Liga Da Justiça do SBT, onde o alívio cômico fica com o personagem com menos treinamento e menos casca que os outros heróis do grupo e a parte mais densa (em doses homeopáticas) fica com a aberração do grupo... Aberração???? Dentro de um grupo de heróis??? Sim! Existe espaço pra algo desconhecido que acaba virando também uma solução pro retorno do ser mais poderoso de todos na Terra e talvez do universo! Mais você quer saber mais sobre a história? É muito ruim dissecar um filme desses sem um spoilerzinho básico então vou passar algumas coisas básicas (sem spoiler) sobre o filme...

-Sim, você irá sorrir.
-Sim, você irá torcer.
- Sim, você irá reclamar sobre alguma coisa do filme, pois ninguém é perfeito.
- E sim, esse filme não mostra nada de novo em filmes de super heróis, mas usa a receita que deu certo em muitos.
-Sim, foi deixado um gancho enooooooorme para muitos filmes da Liga da Justiça.
-Sim, existem duas cenas pós créditos, a segunda é uma boa surpresa.

Enfim, um filme em que o velho ganhou uma roupagem mediana, com o simples propósito de entreter sem muita responsabilidade, pra mim, fechou bem para esse ano, e nessa crítica, se é que eu posso chamar assim, eu nem irei pontuar os pontos fracos do filme pois no fim das contas, é o tipo de filme pra pegar a família e ir ao cinema com um potão de pipoca e aquela manteiga derretidinha e.............perae gente deixa eu ir ver de novo esse filme!!!!!!!!!

Nota: 🌟🌟🌟⭐⭐




OUÇA TAMBÉM O QUE ACHAMOS DE IT: CAPÍTULO DOIS




Crítica: It - A Coisa

Por Diogo Simões

Filmes de terror nunca são por natureza sobre o choque e o terror em si, quando bem realizados são relatos sobre angústias, neuroses, fixações e tabus, sejam eles pessoais; assuntos caros a seus realizadores; ou generalistas representando nossa sociedade como um todo. Aqui me corrijo, bons filmes de terror entendem essa dinâmica. E IT, que estreou nessa quinta-feira é um desses raros casos.
Baseado em um livro de Stephen King, que confesso não li, IT como todos irmãos de gênero entende que para uma história nos prender e chocar é necessário que seus elementos sejam familiares a plateia e o que poderia ser mais familiar do que nossa infância? Período seminal de nossas vidas, terreno fértil onde frutificará grande parte de nossos medos e neuroses.

Toda a trama gira em torno dessa época e de suas descobertas, cujo vilão serve como metáfora perfeita e bastante real para os medos de cada personagem se materializarem, temos um verdadeiro conto sobre a infância e a perda da inocência, que se passa em um universo quase que inteiramente infantil, onde os adultos quase sempre ausentes, quando presentes, são sempre fonte de rejeição, violência ou repressão.

A trama se passa na década de 80, em uma cidadezinha do Maine, onde um grupo de crianças são atormentadas por uma figura sinistra vestida de palhaço que parece ser propositalmente ignorada pelas autoridades locais e caberá a essas mesmas crianças vencer seus medos se quiserem derrotar um mal que desperta a cada 27 anos e já fez incontáveis vítimas.

Recriando a época em que se passa com incrível fidelidade, a cidadezinha parece realmente saída dos anos 80, todo design de produção com seus cenários e figurinos genuínos transformam aqueles cenários e pessoas em figuras reais, até mesmo a paleta de cores usada na película remete ao estilo da época dando essa sensação de nostalgia.

Com uma trama levemente inchada e alguns personagens a mais, a impressão que fica é que o filme poderia ser bem mais enxuto do que suas 2h15m, o Clube dos Perdedores, como nossos heróis se autodenominam poderia perder facilmente dois de seus integrantes sem prejuízo algum a narrativa, mas ainda assim a trama possuí mais acertos do que erros e mesmos os momentos mais prolixos do longa não deixam de entreter.

Exemplar do gênero em que seus melhores momentos de susto não depende exclusivamente da trilha sonora, It apresenta um trabalho de maquiagem e efeitos especiais habilidosos que contribuem para a veracidade do que vemos na tela, sendo raras às vezes em que somos atirados para fora daquele mundo dada a artificialidade do que estamos assistindo (sendo a boca repleta de dentes se abrindo de Pennywise, infelizmente, uma delas), o filme em si merece muitos pontos por seus elementos técnicos.

Mas o elemento mais corajoso do longa reside no fato de que ele não poupa o espectador da violência dirigida às crianças, vítimas exclusivas do vilão. Com uma sequência de abertura que escancara a natureza monstruosa do palhaço, estabelece o tom do restante da história reforçando que a ameaça é terrivelmente fatal.

Destaque para Bill Skarsgard em sua construção do palhaço assassino, com uma atuação que mistura elementos de psicopatia e uma animalidade crua, muitas vezes vemos o personagem salivando pela refeição por chegar como uma verdadeira fera, Skarsgard oscila quando necessário entre o desajeitado palhaço sedutor e a fera selvagem na noite escura.

As demais crianças criam personagens reais com suas delicadas e sensíveis composições com destaque para a sensível Bervely Marsh interpretada pela talentosa Sophia Lillis, naquele que é o arco mais rico e trágico de toda história, tendo o sangue que a persegue durante todo o filme (simples gotas ou inundações), como metáfora para sua nova condição de mulher (menstruação) e não mais criança, a colocando em risco praticamente com todos exemplares adultos do sexo masculino, inclusive seu pai.

It é em essência um filme sobre a infância e como ela reflete de muitas formas ao longo de toda a vida, não é sobre sustos fáceis ou escatologias, não é um tratado sobre nossa sociedade ou época, é um conto intimista sobre coragem e força, sobre enfrentar seus medos, sobre crianças entrando em túneis escuros e emergindo do outro lado como adultos.

Nota: 🌟🌟🌟🌟⭐


Por Marcel Camp

Quem lembra do palhaço Bozo, obviamente lembrará de Arlindo Barreto, o intérprete mais polêmico do personagem. Viciado em cocaína, mulherengo e regado em uma vida de excessos, Arlindo não conseguia mais esconder o quão extravagante havia se tornado sua vida após o sucesso do famoso programa infantil. "BINGO, O REI DAS MANHÃS" troca o nome de Arlindo Barreto, por Augusto Mendes, interpretado de forma sensacional e ultra carismática por Vladimir Brichta.

Com um roteiro dinâmico de Luiz Bolognesi e uma direção certeira de Daniel Rezende (que já havia editado o premiado "Cidade de Deus"), o filme não só apresenta os trunfos e as quedas de uma personalidade em ascenção, mas principalmente, revelam pensamentos do quanto vale a fama se não somos capazes de nos ponderar. O clima dos anos 80 está em toda a parte, desde os figurinos, aos carros e até às legendas e letreiros... mas com toda a certeza, Rezende conseguiu em seu primeiro longa-metragem, realizar um dos melhores blockbusters brasileiros. E nos expandiu ainda mais o talento de Vladimir Brichta!

Nota: 🌟🌟🌟🌟⭐

Por Diogo Simões

Dunkirk é um filme habilmente construído em cima de sons e imagens. Ao final de 1h e 46m, não se espante se você não souber o nome da maioria de seus personagens, o longa não se apresenta como um estudo dos mesmos. Toda a estratégia visual do cineasta é te colocar no centro da ação em companhia daqueles milhares de soldados em uma situação impossível e desesperadora a caminho de casa.

Christopher Nolan é um diretor que atua detrás das câmeras com uma precisão quase mecânica, seus longas são exemplares se analisados estritamente seus pontos técnicos, edição e  montagens precisas unindo diferentes linhas temporais e focos de ação, preferência a efeitos práticos ao quase onipresente CGI das películas atuais, além é claro de tramas sempre complexas e carregadas de simbolismos.
Muitos de seus detratores se concentram no didatismo do diretor e sua necessidade quase professoral de explicar para o espectador o que está acontecendo na tela enquanto outros focam na precisão mecânica de seus filmes que praticamente descarta elementos emocionais subjetivos e quando assim o faz (vide Interestelar) faz de maneira forçada (amor como bússola cósmica).

Em Dunkirk o diretor faz seu filme mais contido, onde vemos como de habitual suas virtudes como contador de história e pouco de seus vícios narrativos ou visuais, a câmera quase sempre no meio da ação, poderia te levar a pensar em tomadas tremidas, sem muita orientação espacial,  quando na realidade ela é usada perfeitamente para ilustrar a confusão dos personagens em meio a tiroteios e bombardeios, inúmeras vezes em ambientes claustrofóbicos. Os sons diegéticos elevados ao nível  quase ensurdecedor, simulam também para o espectador a desorientação que os personagens estão sujeitos.


A história incrivelmente real de como a Inglaterra milagrosamente evacuou 335000 soldados das areias de Dunkirk de volta para casa é muito mais complexa do que o filme tende a sugerir e envolveu um esforço conjunto de embarcações civis de diferentes nações. Ponto para o  filme ao não envernizar uma derrota colossal da Inglaterra naquele momento da guerra (alguns já davam como certa a invasão da Inglaterra), mas indicar ainda que timidamente uma ponta de esperança (viva para lutar um outro dia).

A estratégia narrativa envolve, como de costume nos filmes de Nolan, costurar diferentes focos de ação, apresentados simultaneamente. No caso de Dunkirk, a estratégia visa resolver um problema temporal claro, como montar sequências de ação que se passam dentro de diferentes vetores, seria algo tremendamente incoerente narrativa e visualmente mostrar a ação dentro de segmentos separados simplesmente porque para um soldado a pé seu tempo de ação, sujeição ao fogo inimigo é completamente diferente do de um piloto da RAF ou de um capitão de um barco civil.


Ao trabalhar com diferentes janelas temporais, Nolan optou por costurar a narrativa dentro dessa idéia de simultaneidade. E a estratégia funciona, o filme nunca perde ritmo ou deixa de causar tensão.
Ao utilizar atores desconhecidos (salvo Tom Hardy, Mark Rylance, Kenneth Branagh e Cillian Murphy) o diretor cria a tensão necessária a diversos núcleos de que a qualquer momento podemos testemunhar uma baixa. Destaque para Cillian Murphy que vive um sobrevivente de um navio torpedeado em choque e contrário a ideia de voltar ao centro da ação. Tom Hardy utiliza novamente de sua habilidade de passar emoção apenas com suas (poucas) palavras e expressões (vide o excelente Locke), enquanto Mark Rylance e Kenneth Branagh criam personagens imbuídos de forte fibra moral em suas missões.

Enxuto em seus 106 minutos de duração, Dunkirk nos mostra que uma guerra é, em última analise, a história de homens ordinários, empurrados para o meio de eventos extraordinários que como homens comuns que são, apenas anseiam por uma passagem segura de volta para casa.

Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟



Por Diogo Simões

Ghost in the Shell, que recebeu o subtítulo de 'A Vigilante do Amanhã' no Brasil, é um filme baseado no anime de 1995 que por sua vez foi baseado em um mangá, a história envolvendo a realização do anime é interessante para compreender sua versão live action que está nos cinemas.

O anime tinha a intenção, lá em 1995, de popularizar o gênero junto ao mercado ocidental, para isso contou com uma produção (grana) britânica, música composta para o filme pela então maior banda da época (U2) e um lançamento nos cinemas ocidentais em muito mais salas do que qualquer predecessor de seu gênero. Mas a estratégia falhou e apesar de hoje o filme ter se tornado cult e possuir uma bela base de adoradores, foi um fracasso de bilheteria.

O gênero cyberpunk normalmente não arrebata de imediato legiões de fãs e sucesso comercial, tende a ser um gênero que precisa de tempo para maturar, muitas de suas idéias tendem a se revelar previsões de nosso amanhã e seus desafios antecipações de problemas em um futuro onde a diferença homem e máquina irá diminuir ou até desaparecer. Enquanto muitas de suas proposições entram pela seara do metafísico, passando pela filosofia e se desenrolando em cenários geopolíticos e culturais complexos, normalmente em tramas que nos remetem ao Noir.

Vamos a trama, Major é uma investigadora de um grupo chamado Setor 9, que responde ao governo de uma futurista Tóquio, baseada estilisticamente em uma presente Hong Kong. Major é na verdade a “primeira de seu tipo”, um construto de partes robóticas em um cérebro humano que conforme sua investigação avança a respeito de assassinatos cometidos contra altos membros uma gigante corporação transnacional (que não por acaso é a empresa que criou seu corpo robótico) vai descobrindo mais e mais sobre seu passado. Em seu auxílio ela conta com parceiros com pouquíssimo tempo de tela para que possamos conhecê-los além de suas aparentes etnias (Russo, Chinês, Árabe e Japonês) e assim dar uma sensação de multiculturalidade ao mundo futurista sem perder tempo tendo que desenvolver isso (uma solução capenga).


A trama readapta pontos importantes do anime e contextualiza seu universo pessoal e político dentro desse gap de 22 anos do anime até o lançamento dessa versão, mas por incrível que pareça isso não fez bem ao longa, na verdade discussões a respeito da metafísica (o que nos torna humanos; singularidade) e geopolítica (conflitos internacionais; políticas agressivas anti-imigração) deixam de ser abordadas para se concentrar em sequências de ação (sem a visceralidade do original) e em discussões rasteiras sobre o que nos torna nós.

O aspecto que mais chama a atenção para o longa é a riqueza com que a Tóquio do futuro é construída, uma megalópole do futuro, super-populosa, suja, cinzenta e frequentemente chuvosa (ecos de Blade Runner) contraposta a opulência estrutural e tecnológica de seus arranha céus e onipresente propaganda em suas fachadas e skyline. Em Ghost in the Shell a paisagem é uma das protagonistas da trama, evocativa e em constante mudança a cidade pode muito bem também representar seus personagens, em constante estado de evolução e transformação. Ambos evoluindo e se transformando em algo novo, diferente.

Belamente fotografado o filme desaponta em suas cenas de ação, que sempre parecem estéreis, não existe impacto real quando se detonam explosivos e esvaziam cartuchos de balas, apenas motes para explorar suas consequências ou melhor dizendo, oportunidades para aperfeiçoamentos cibernéticos. E se considerarmos que o filme abandonou boa parte da discussão metafísica presente no orinal para abraçar o cinema de ação (necessidade de adaptação para o  público ocidental?) o longa perde muito de seu peso e futura atemporalidade.


Pouco se pode dizer a respeito das atuações do elenco, já que com exceção de Scarlet Johansson e de Michael Pitt, ambos razoáveis, os demais personagens são arremedos de personalidades genéricas, servindo mais como escadas e estereótipos que podemos automaticamente inferir suas ações sem necessariamente passar maior tempo com eles (chefe sisudo e confiável ou o empresário corrupto e inescrupuloso).

Os elementos de noir estão presentes, as ramificações cada vez mais profundas da trama, as traições, o cinismo. Mas falta peso, de alguma forma o conteúdo metafísico se perdeu na tradução, transformando o longa em apenas mais um exemplar de ação.
Não que o diretor Rupert Sanders deixe de inserir cenas clássicas do anime, em diversos momentos temos reproduções fiéis de momentos clássicos, mas estas servem mais como fanservice do que propriamente a trama.

Em resumo Ghost in the Shell caminha para a direção oposta de seus irmãos de gênero, quando colocado a prova do tempo sua relevância temática tende a apenas diminuir, jamais se estabelecendo como uma obra relevante dentro do rico cyberpunk.

Nota: ★★★☆☆


Por Diogo Simões
Silêncio, filme dirigido por Martin Scorsese, é um longa que percorre grandes distâncias temáticas e narrativas refletindo sobre questões filosóficas quintessenciais e sobre o mistério da fé, então é com pesar que perto do final de suas 2 horas e 40 minutos ele deseje nos entregar algumas respostas que não necessitavam de respostas.
Fechando aquilo que podemos chamar de trilogia da fé (A Última Tentação de Cristo, Kundun e Silêncio), Scorsese apresenta um filme sobre fé, reflexão e resignação. Logo de início somos apresentados aos dois jovens Padres Jesuítas portugueses, Rodrigues e Garupe (Andrew Garfield e Adam Driver, respectivamente) que inconformados com os relatos recebidos de que seu estimado mentor Padre Ferreira (Liam Neeson) havia abdicado de sua fé no distante e hostil Japão, se voluntariam a cruzar o planeta para saber o que aconteceu verdadeiramente com seu mentor e desfazer o que acreditam ser uma calúnia absurda, já que a fé na disciplina e na intensidade da devoção de seu mestre a uma vida dedicada a Santa Igreja é absoluta da parte do jovens Jesuítas.
O confronto de civilizações que se sucederá dessa busca não poderia ser mais brutal, já que os dois se encontraram não apenas em território hostil, mas também em um país praticamente alienígena. O choque de chegar nas praias de um país tão diferente é bem abordado pelo roteiro por exemplo quando vemos as dificuldade dos Padres em lidar com um idioma que não conseguem entender, resultando em confissões ininteligíveis, comidas que mesmo a fome não consegue temperar e o medo onipresente de ser descoberto, já que dois europeus jamais conseguiriam se misturar aos demais habitantes sem chamar atenção.

Todos esses aspectos trabalham de forma coerente com os figurinos e locações, desde as  batinas em preto dos Padres até as roupas surradas e maltrapilhas dos camponeses em absoluto contraste com as roupas elegantes e desconfortavelmente belas da elite política japonesa. Tudo funciona para o realismo do que assistimos, realismo esse realçado pela belíssima escolha de locações que foge da tentação de mostrar a vida naqueles lugares como um refúgio idílico e sim como era na realidade, uma mistura de mato impenetrável, chuva onipresente, lama por todos os caminhos e um mar revolto de ondas perigosas, cenário esse ocasionalmente pontuado por habitações paupérrimas e decrépitas.
Em meio a esse cenário desesperador os Padres encontram um fervor religioso talvez maior do que estavam acostumados na Europa, mas acima de tudo encontram devotos mais interessados nos rituais litúrgicos e nas pequenas relíquias que os Jesuitas podem performar e carregar do que na filosofia e dogmas religiosos em si, resultando em uma cena incrível, em que Padre Rodrigues não consegue explicar a um casal que acabara de batizar o filho, que aquele ritual não garante automaticamente a criança um lugar no paraíso. E é tocante ver como na absoluta ausência de símbolos religiosos, os camponeses fabricam seus próprios totens religiosos nesse belo contraste entre a necessidade física e etérea da fé.
Mas toda habilidade técnica do longa perde força quando se trata das escolhas narrativas do diretor, a principal delas é a narração em off que por boa parte do filme fica ao encargo de seu protagonista (Garfield) que por vezes é expositiva demais, explicando o que o espectador naturalmente entenderia sem esse artifício, e se em determinado momento os clamores de Padre Ferreira são respondidos quebrando o Silêncio que é tão representativo em nossa relação com Deus, a catarse resultante é artificial/irreal. Isso sem citar a troca de narrador já no final da película por um personagem que não fomos apresentados e não fazemos ideia de quem seja.

O roteiro ainda se emenda e nos apresenta uma bela cena entre Garfield e Neeson, acerca de nossas naturezas e convicções não permanecerem imantadas no tempo, sobre elas serem fluidas e construídas a partir de nossas experiencias e circunstâncias, através de um monólogo sensível do resignado e experiente Padre Ferreira.
Mas é uma pena que o filme acredite precisar de um excesso de explicações que acabam por se contrapor à ideia original presente no título da obra, de que o silêncio por vezes pode preencher os espaços de uma sala com puro entendimento ou desacordo que esse mesmo silêncio pode nos afundar em desespero ou nos preencher de graça. Que por fim nossa existência é feita de perguntas e clamores sem respostas, provações e privações sem propósitos, sacrifícios e negações sem consequências, todos respondidos com absoluto silêncio.

Nota: ★★★