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Faaaaaaala galera, aqui é Clayton Muniz e esse é mais um “O Leigo Viu”.

E hoje dia 14 de Novembro de 2017(foi quando vi o filme e "escrivinhei" a crítica), posso dizer que tive o prazer de ver um dos filmes mais aguardados do ano: Liga da Justiça...  Filme que provavelmente fará muito dindin nos cinemas do mundo, mas será que valeu a pena tanta espera? Vamos descobrir.  [SEM SPOILER]

Lembrando que eu sou, como diz o título deste epílogo, um leigo completo na matéria chamada cinema e falo do meu jeito, sobre o que vi, pra ajudar você a tomar suas decisões dentro de tudo isso, sendo você leigo como eu, ou não... então vamos lá!

O filme se passa depois de um tempo da morte do Superman, num planeta Terra debaixo de um temor de uma iminente cagada que possa acontecer a qualquer momento, e é óbvio que o Homem Morcego, sabe de tudo isso e está caçando provas dessa teoria. A película começa exatamente com esse momento, onde Batman (Ben Aflek) está tentando achar um caminho, dentro dessa escuridão de ideias que permeiam sua mente, sobre o futuro sombrio que o planeta pode vir a ter.

E... descobre. Começa então uma corrida contra o tempo, pois Steppenwolf (Lobo da Estepe ?????) é um novo deus (vide os novos 52 das Hqs) bem durão, que está vindo com tudo para dominar a Terra. Ele procura as três Caixas Maternas, para que o seu plano de domínio e preparação de caminho para seu sobrinho, Darkseid, chegar chegando, e passar o cerol na humanidade, se complete! E lá vão eles, Batman, Mulher Maravilha, Flash, Ciborgue e Aquaman (desculpem, não o coloquei por último de propósito, simplesmente aconteceu rsrsrsrsr) tentar parar esses intrusos alienígenas, hiper, ultra, mega, poderosos sem o Homem de Aço, o que torna tudo muito mais difícil...


Tirando a História principal, várias historinhas permeiam e ajudam a contar de forma bem leve e tranquila o ajuntamento de heróis para salvar o planeta (sim com muitas piadas, mas em nenhum momento vi pessoas reclamando no cinema, nem o mais feroz DCNauta) , e em momento algum, parece que o filme se tornará um Batman vs Superman, ou qualquer outro filme da franquia DC, ao invés disso, fica a sensação que estamos vendo algo parecido com os filmes da Marvel, mas não!!!!! É algo diferente ... parece, sim mas não é igual aos filmes da Marvel. As piadas são mais contidas e mais fáceis de serem aceitas pois sempre acabam entrando em um contexto um pouco mais aceitável... tirando uma ou outra cena, pois ninguém é perfeito... ainda mais a DC!

Dentro do filme mais leve e mais bem iluminado de todos até hoje do universo DC, é sim um filme menos Dark Night e muito mais Liga Da Justiça do SBT, onde o alívio cômico fica com o personagem com menos treinamento e menos casca que os outros heróis do grupo e a parte mais densa (em doses homeopáticas) fica com a aberração do grupo... Aberração???? Dentro de um grupo de heróis??? Sim! Existe espaço pra algo desconhecido que acaba virando também uma solução pro retorno do ser mais poderoso de todos na Terra e talvez do universo! Mais você quer saber mais sobre a história? É muito ruim dissecar um filme desses sem um spoilerzinho básico então vou passar algumas coisas básicas (sem spoiler) sobre o filme...

-Sim, você irá sorrir.
-Sim, você irá torcer.
- Sim, você irá reclamar sobre alguma coisa do filme, pois ninguém é perfeito.
- E sim, esse filme não mostra nada de novo em filmes de super heróis, mas usa a receita que deu certo em muitos.
-Sim, foi deixado um gancho enooooooorme para muitos filmes da Liga da Justiça.
-Sim, existem duas cenas pós créditos, a segunda é uma boa surpresa.

Enfim, um filme em que o velho ganhou uma roupagem mediana, com o simples propósito de entreter sem muita responsabilidade, pra mim, fechou bem para esse ano, e nessa crítica, se é que eu posso chamar assim, eu nem irei pontuar os pontos fracos do filme pois no fim das contas, é o tipo de filme pra pegar a família e ir ao cinema com um potão de pipoca e aquela manteiga derretidinha e.............perae gente deixa eu ir ver de novo esse filme!!!!!!!!!

Nota: 🌟🌟🌟⭐⭐




OUÇA TAMBÉM O QUE ACHAMOS DE IT: CAPÍTULO DOIS




Crítica: It - A Coisa

Por Diogo Simões

Filmes de terror nunca são por natureza sobre o choque e o terror em si, quando bem realizados são relatos sobre angústias, neuroses, fixações e tabus, sejam eles pessoais; assuntos caros a seus realizadores; ou generalistas representando nossa sociedade como um todo. Aqui me corrijo, bons filmes de terror entendem essa dinâmica. E IT, que estreou nessa quinta-feira é um desses raros casos.
Baseado em um livro de Stephen King, que confesso não li, IT como todos irmãos de gênero entende que para uma história nos prender e chocar é necessário que seus elementos sejam familiares a plateia e o que poderia ser mais familiar do que nossa infância? Período seminal de nossas vidas, terreno fértil onde frutificará grande parte de nossos medos e neuroses.

Toda a trama gira em torno dessa época e de suas descobertas, cujo vilão serve como metáfora perfeita e bastante real para os medos de cada personagem se materializarem, temos um verdadeiro conto sobre a infância e a perda da inocência, que se passa em um universo quase que inteiramente infantil, onde os adultos quase sempre ausentes, quando presentes, são sempre fonte de rejeição, violência ou repressão.

A trama se passa na década de 80, em uma cidadezinha do Maine, onde um grupo de crianças são atormentadas por uma figura sinistra vestida de palhaço que parece ser propositalmente ignorada pelas autoridades locais e caberá a essas mesmas crianças vencer seus medos se quiserem derrotar um mal que desperta a cada 27 anos e já fez incontáveis vítimas.

Recriando a época em que se passa com incrível fidelidade, a cidadezinha parece realmente saída dos anos 80, todo design de produção com seus cenários e figurinos genuínos transformam aqueles cenários e pessoas em figuras reais, até mesmo a paleta de cores usada na película remete ao estilo da época dando essa sensação de nostalgia.

Com uma trama levemente inchada e alguns personagens a mais, a impressão que fica é que o filme poderia ser bem mais enxuto do que suas 2h15m, o Clube dos Perdedores, como nossos heróis se autodenominam poderia perder facilmente dois de seus integrantes sem prejuízo algum a narrativa, mas ainda assim a trama possuí mais acertos do que erros e mesmos os momentos mais prolixos do longa não deixam de entreter.

Exemplar do gênero em que seus melhores momentos de susto não depende exclusivamente da trilha sonora, It apresenta um trabalho de maquiagem e efeitos especiais habilidosos que contribuem para a veracidade do que vemos na tela, sendo raras às vezes em que somos atirados para fora daquele mundo dada a artificialidade do que estamos assistindo (sendo a boca repleta de dentes se abrindo de Pennywise, infelizmente, uma delas), o filme em si merece muitos pontos por seus elementos técnicos.

Mas o elemento mais corajoso do longa reside no fato de que ele não poupa o espectador da violência dirigida às crianças, vítimas exclusivas do vilão. Com uma sequência de abertura que escancara a natureza monstruosa do palhaço, estabelece o tom do restante da história reforçando que a ameaça é terrivelmente fatal.

Destaque para Bill Skarsgard em sua construção do palhaço assassino, com uma atuação que mistura elementos de psicopatia e uma animalidade crua, muitas vezes vemos o personagem salivando pela refeição por chegar como uma verdadeira fera, Skarsgard oscila quando necessário entre o desajeitado palhaço sedutor e a fera selvagem na noite escura.

As demais crianças criam personagens reais com suas delicadas e sensíveis composições com destaque para a sensível Bervely Marsh interpretada pela talentosa Sophia Lillis, naquele que é o arco mais rico e trágico de toda história, tendo o sangue que a persegue durante todo o filme (simples gotas ou inundações), como metáfora para sua nova condição de mulher (menstruação) e não mais criança, a colocando em risco praticamente com todos exemplares adultos do sexo masculino, inclusive seu pai.

It é em essência um filme sobre a infância e como ela reflete de muitas formas ao longo de toda a vida, não é sobre sustos fáceis ou escatologias, não é um tratado sobre nossa sociedade ou época, é um conto intimista sobre coragem e força, sobre enfrentar seus medos, sobre crianças entrando em túneis escuros e emergindo do outro lado como adultos.

Nota: 🌟🌟🌟🌟⭐


Por Marcel Camp

Quem lembra do palhaço Bozo, obviamente lembrará de Arlindo Barreto, o intérprete mais polêmico do personagem. Viciado em cocaína, mulherengo e regado em uma vida de excessos, Arlindo não conseguia mais esconder o quão extravagante havia se tornado sua vida após o sucesso do famoso programa infantil. "BINGO, O REI DAS MANHÃS" troca o nome de Arlindo Barreto, por Augusto Mendes, interpretado de forma sensacional e ultra carismática por Vladimir Brichta.

Com um roteiro dinâmico de Luiz Bolognesi e uma direção certeira de Daniel Rezende (que já havia editado o premiado "Cidade de Deus"), o filme não só apresenta os trunfos e as quedas de uma personalidade em ascenção, mas principalmente, revelam pensamentos do quanto vale a fama se não somos capazes de nos ponderar. O clima dos anos 80 está em toda a parte, desde os figurinos, aos carros e até às legendas e letreiros... mas com toda a certeza, Rezende conseguiu em seu primeiro longa-metragem, realizar um dos melhores blockbusters brasileiros. E nos expandiu ainda mais o talento de Vladimir Brichta!

Nota: 🌟🌟🌟🌟⭐

Por Diogo Simões

Dunkirk é um filme habilmente construído em cima de sons e imagens. Ao final de 1h e 46m, não se espante se você não souber o nome da maioria de seus personagens, o longa não se apresenta como um estudo dos mesmos. Toda a estratégia visual do cineasta é te colocar no centro da ação em companhia daqueles milhares de soldados em uma situação impossível e desesperadora a caminho de casa.

Christopher Nolan é um diretor que atua detrás das câmeras com uma precisão quase mecânica, seus longas são exemplares se analisados estritamente seus pontos técnicos, edição e  montagens precisas unindo diferentes linhas temporais e focos de ação, preferência a efeitos práticos ao quase onipresente CGI das películas atuais, além é claro de tramas sempre complexas e carregadas de simbolismos.
Muitos de seus detratores se concentram no didatismo do diretor e sua necessidade quase professoral de explicar para o espectador o que está acontecendo na tela enquanto outros focam na precisão mecânica de seus filmes que praticamente descarta elementos emocionais subjetivos e quando assim o faz (vide Interestelar) faz de maneira forçada (amor como bússola cósmica).

Em Dunkirk o diretor faz seu filme mais contido, onde vemos como de habitual suas virtudes como contador de história e pouco de seus vícios narrativos ou visuais, a câmera quase sempre no meio da ação, poderia te levar a pensar em tomadas tremidas, sem muita orientação espacial,  quando na realidade ela é usada perfeitamente para ilustrar a confusão dos personagens em meio a tiroteios e bombardeios, inúmeras vezes em ambientes claustrofóbicos. Os sons diegéticos elevados ao nível  quase ensurdecedor, simulam também para o espectador a desorientação que os personagens estão sujeitos.


A história incrivelmente real de como a Inglaterra milagrosamente evacuou 335000 soldados das areias de Dunkirk de volta para casa é muito mais complexa do que o filme tende a sugerir e envolveu um esforço conjunto de embarcações civis de diferentes nações. Ponto para o  filme ao não envernizar uma derrota colossal da Inglaterra naquele momento da guerra (alguns já davam como certa a invasão da Inglaterra), mas indicar ainda que timidamente uma ponta de esperança (viva para lutar um outro dia).

A estratégia narrativa envolve, como de costume nos filmes de Nolan, costurar diferentes focos de ação, apresentados simultaneamente. No caso de Dunkirk, a estratégia visa resolver um problema temporal claro, como montar sequências de ação que se passam dentro de diferentes vetores, seria algo tremendamente incoerente narrativa e visualmente mostrar a ação dentro de segmentos separados simplesmente porque para um soldado a pé seu tempo de ação, sujeição ao fogo inimigo é completamente diferente do de um piloto da RAF ou de um capitão de um barco civil.


Ao trabalhar com diferentes janelas temporais, Nolan optou por costurar a narrativa dentro dessa idéia de simultaneidade. E a estratégia funciona, o filme nunca perde ritmo ou deixa de causar tensão.
Ao utilizar atores desconhecidos (salvo Tom Hardy, Mark Rylance, Kenneth Branagh e Cillian Murphy) o diretor cria a tensão necessária a diversos núcleos de que a qualquer momento podemos testemunhar uma baixa. Destaque para Cillian Murphy que vive um sobrevivente de um navio torpedeado em choque e contrário a ideia de voltar ao centro da ação. Tom Hardy utiliza novamente de sua habilidade de passar emoção apenas com suas (poucas) palavras e expressões (vide o excelente Locke), enquanto Mark Rylance e Kenneth Branagh criam personagens imbuídos de forte fibra moral em suas missões.

Enxuto em seus 106 minutos de duração, Dunkirk nos mostra que uma guerra é, em última analise, a história de homens ordinários, empurrados para o meio de eventos extraordinários que como homens comuns que são, apenas anseiam por uma passagem segura de volta para casa.

Nota: 🌟🌟🌟🌟🌟



Por Diogo Simões

Ghost in the Shell, que recebeu o subtítulo de 'A Vigilante do Amanhã' no Brasil, é um filme baseado no anime de 1995 que por sua vez foi baseado em um mangá, a história envolvendo a realização do anime é interessante para compreender sua versão live action que está nos cinemas.

O anime tinha a intenção, lá em 1995, de popularizar o gênero junto ao mercado ocidental, para isso contou com uma produção (grana) britânica, música composta para o filme pela então maior banda da época (U2) e um lançamento nos cinemas ocidentais em muito mais salas do que qualquer predecessor de seu gênero. Mas a estratégia falhou e apesar de hoje o filme ter se tornado cult e possuir uma bela base de adoradores, foi um fracasso de bilheteria.

O gênero cyberpunk normalmente não arrebata de imediato legiões de fãs e sucesso comercial, tende a ser um gênero que precisa de tempo para maturar, muitas de suas idéias tendem a se revelar previsões de nosso amanhã e seus desafios antecipações de problemas em um futuro onde a diferença homem e máquina irá diminuir ou até desaparecer. Enquanto muitas de suas proposições entram pela seara do metafísico, passando pela filosofia e se desenrolando em cenários geopolíticos e culturais complexos, normalmente em tramas que nos remetem ao Noir.

Vamos a trama, Major é uma investigadora de um grupo chamado Setor 9, que responde ao governo de uma futurista Tóquio, baseada estilisticamente em uma presente Hong Kong. Major é na verdade a “primeira de seu tipo”, um construto de partes robóticas em um cérebro humano que conforme sua investigação avança a respeito de assassinatos cometidos contra altos membros uma gigante corporação transnacional (que não por acaso é a empresa que criou seu corpo robótico) vai descobrindo mais e mais sobre seu passado. Em seu auxílio ela conta com parceiros com pouquíssimo tempo de tela para que possamos conhecê-los além de suas aparentes etnias (Russo, Chinês, Árabe e Japonês) e assim dar uma sensação de multiculturalidade ao mundo futurista sem perder tempo tendo que desenvolver isso (uma solução capenga).


A trama readapta pontos importantes do anime e contextualiza seu universo pessoal e político dentro desse gap de 22 anos do anime até o lançamento dessa versão, mas por incrível que pareça isso não fez bem ao longa, na verdade discussões a respeito da metafísica (o que nos torna humanos; singularidade) e geopolítica (conflitos internacionais; políticas agressivas anti-imigração) deixam de ser abordadas para se concentrar em sequências de ação (sem a visceralidade do original) e em discussões rasteiras sobre o que nos torna nós.

O aspecto que mais chama a atenção para o longa é a riqueza com que a Tóquio do futuro é construída, uma megalópole do futuro, super-populosa, suja, cinzenta e frequentemente chuvosa (ecos de Blade Runner) contraposta a opulência estrutural e tecnológica de seus arranha céus e onipresente propaganda em suas fachadas e skyline. Em Ghost in the Shell a paisagem é uma das protagonistas da trama, evocativa e em constante mudança a cidade pode muito bem também representar seus personagens, em constante estado de evolução e transformação. Ambos evoluindo e se transformando em algo novo, diferente.

Belamente fotografado o filme desaponta em suas cenas de ação, que sempre parecem estéreis, não existe impacto real quando se detonam explosivos e esvaziam cartuchos de balas, apenas motes para explorar suas consequências ou melhor dizendo, oportunidades para aperfeiçoamentos cibernéticos. E se considerarmos que o filme abandonou boa parte da discussão metafísica presente no orinal para abraçar o cinema de ação (necessidade de adaptação para o  público ocidental?) o longa perde muito de seu peso e futura atemporalidade.


Pouco se pode dizer a respeito das atuações do elenco, já que com exceção de Scarlet Johansson e de Michael Pitt, ambos razoáveis, os demais personagens são arremedos de personalidades genéricas, servindo mais como escadas e estereótipos que podemos automaticamente inferir suas ações sem necessariamente passar maior tempo com eles (chefe sisudo e confiável ou o empresário corrupto e inescrupuloso).

Os elementos de noir estão presentes, as ramificações cada vez mais profundas da trama, as traições, o cinismo. Mas falta peso, de alguma forma o conteúdo metafísico se perdeu na tradução, transformando o longa em apenas mais um exemplar de ação.
Não que o diretor Rupert Sanders deixe de inserir cenas clássicas do anime, em diversos momentos temos reproduções fiéis de momentos clássicos, mas estas servem mais como fanservice do que propriamente a trama.

Em resumo Ghost in the Shell caminha para a direção oposta de seus irmãos de gênero, quando colocado a prova do tempo sua relevância temática tende a apenas diminuir, jamais se estabelecendo como uma obra relevante dentro do rico cyberpunk.

Nota: ★★★☆☆


Por Diogo Simões
Silêncio, filme dirigido por Martin Scorsese, é um longa que percorre grandes distâncias temáticas e narrativas refletindo sobre questões filosóficas quintessenciais e sobre o mistério da fé, então é com pesar que perto do final de suas 2 horas e 40 minutos ele deseje nos entregar algumas respostas que não necessitavam de respostas.
Fechando aquilo que podemos chamar de trilogia da fé (A Última Tentação de Cristo, Kundun e Silêncio), Scorsese apresenta um filme sobre fé, reflexão e resignação. Logo de início somos apresentados aos dois jovens Padres Jesuítas portugueses, Rodrigues e Garupe (Andrew Garfield e Adam Driver, respectivamente) que inconformados com os relatos recebidos de que seu estimado mentor Padre Ferreira (Liam Neeson) havia abdicado de sua fé no distante e hostil Japão, se voluntariam a cruzar o planeta para saber o que aconteceu verdadeiramente com seu mentor e desfazer o que acreditam ser uma calúnia absurda, já que a fé na disciplina e na intensidade da devoção de seu mestre a uma vida dedicada a Santa Igreja é absoluta da parte do jovens Jesuítas.
O confronto de civilizações que se sucederá dessa busca não poderia ser mais brutal, já que os dois se encontraram não apenas em território hostil, mas também em um país praticamente alienígena. O choque de chegar nas praias de um país tão diferente é bem abordado pelo roteiro por exemplo quando vemos as dificuldade dos Padres em lidar com um idioma que não conseguem entender, resultando em confissões ininteligíveis, comidas que mesmo a fome não consegue temperar e o medo onipresente de ser descoberto, já que dois europeus jamais conseguiriam se misturar aos demais habitantes sem chamar atenção.

Todos esses aspectos trabalham de forma coerente com os figurinos e locações, desde as  batinas em preto dos Padres até as roupas surradas e maltrapilhas dos camponeses em absoluto contraste com as roupas elegantes e desconfortavelmente belas da elite política japonesa. Tudo funciona para o realismo do que assistimos, realismo esse realçado pela belíssima escolha de locações que foge da tentação de mostrar a vida naqueles lugares como um refúgio idílico e sim como era na realidade, uma mistura de mato impenetrável, chuva onipresente, lama por todos os caminhos e um mar revolto de ondas perigosas, cenário esse ocasionalmente pontuado por habitações paupérrimas e decrépitas.
Em meio a esse cenário desesperador os Padres encontram um fervor religioso talvez maior do que estavam acostumados na Europa, mas acima de tudo encontram devotos mais interessados nos rituais litúrgicos e nas pequenas relíquias que os Jesuitas podem performar e carregar do que na filosofia e dogmas religiosos em si, resultando em uma cena incrível, em que Padre Rodrigues não consegue explicar a um casal que acabara de batizar o filho, que aquele ritual não garante automaticamente a criança um lugar no paraíso. E é tocante ver como na absoluta ausência de símbolos religiosos, os camponeses fabricam seus próprios totens religiosos nesse belo contraste entre a necessidade física e etérea da fé.
Mas toda habilidade técnica do longa perde força quando se trata das escolhas narrativas do diretor, a principal delas é a narração em off que por boa parte do filme fica ao encargo de seu protagonista (Garfield) que por vezes é expositiva demais, explicando o que o espectador naturalmente entenderia sem esse artifício, e se em determinado momento os clamores de Padre Ferreira são respondidos quebrando o Silêncio que é tão representativo em nossa relação com Deus, a catarse resultante é artificial/irreal. Isso sem citar a troca de narrador já no final da película por um personagem que não fomos apresentados e não fazemos ideia de quem seja.

O roteiro ainda se emenda e nos apresenta uma bela cena entre Garfield e Neeson, acerca de nossas naturezas e convicções não permanecerem imantadas no tempo, sobre elas serem fluidas e construídas a partir de nossas experiencias e circunstâncias, através de um monólogo sensível do resignado e experiente Padre Ferreira.
Mas é uma pena que o filme acredite precisar de um excesso de explicações que acabam por se contrapor à ideia original presente no título da obra, de que o silêncio por vezes pode preencher os espaços de uma sala com puro entendimento ou desacordo que esse mesmo silêncio pode nos afundar em desespero ou nos preencher de graça. Que por fim nossa existência é feita de perguntas e clamores sem respostas, provações e privações sem propósitos, sacrifícios e negações sem consequências, todos respondidos com absoluto silêncio.

Nota: ★★★


Por Diogo Simões

Fences, título original de 'Um Limite Entre Nós' (que estréia 2 de março nos cinemas brasileiros), é um filme indicado a 4 Oscar, baseado em uma peça ganhadora de um Pulitzer e um Tony, cujo título original (Cercas) ressoa com muito mais verdade a respeito das vidas de seus amargurados personagens do que a escolha nacional pretende sugerir.

Como uma obra escrita originalmente para o teatro, Um Limite entre Nós é um filme cujo ritmo e força dependem exclusivamente de seus intérpretes para alcançar o efeito de nos envolver. E as duas interpretações centrais são impecáveis nesse sentido, nos fazendo se importar e sofrer com as decisões e perdas que os personagens inevitavelmente irão sofrer e se infringirem.
Denzel Washington entrega um Troy Maxson complexo, que a princípio desperta antipatia, mas que ao se conhecer o passado do sujeito (em um momento de raríssima fragilidade do personagem), nos espantamos como a seu modo e dentro de sua lógica ainda tenha conseguido ser um bom marido e pai. Seu arco é descrito de forma tão natural e bem desenvolvida que a impressão é que já conhecemos Troy por muitos anos e julgamos plenamente racional seu amargor e postura cética a respeito da vida e do establishment opressor, Denzel nos apresenta esse sujeito fragmentado, cuja vida parece se dividir assim como os filmes em 3 atos distintos, um início de vida sofrido e dedicado a delinquência, um meio obediente e dedicado a família e o ponto em que o encontramos quando se dedica a auto-indulgência, plenamente justificada sob seu ponto de vista, mas indubitavelmente uma fuga de sua “cerca” onde possa experimentar breves sopros de vida.

Mas se Troy é claramente o protagonista desta história é a atuação de Viola Davis através da sensível e amorosa Rose Maxson que percebemos o centro emocional do filme. E que personagem!. Se o exercício de empatia que realizamos com Troy e seus sonhos fustigados, massacrados pela cor de sua pele nos desperta simpatia é através de Rose que podemos realmente entender o sentido de uma vida de frustrações, tal qual na sequência que deve lhe valer o Oscar, quando explode e vocaliza uma vida de perdas, anulamentos, submissões e infelizes contentamentos. Rose além de negra é uma mulher. E se Troy em determinado momento egoistamente decide “encher-se de risos da cabeça as pés” é Rose com sua imensa sensibilidade que terá de arcar com as consequências de sua impulsividade. Dentro de sua “cerca”.

Com 2 horas e 19 minutos, praticamente de diálogos, mesmo as conversas mais despretensiosas formarão rimas e complementarão a narrativa em momentos futuros do longa, revelando a beleza e polimento do roteiro escrito por August Wilson e se a direção de Denzel Washington é tão natural vale o fato de já tê-la feito (no teatro) mais de uma centena de vezes. Cenários e figurinos delicadamente construídos para dar credibilidade ao universo criado, mesas e sofás com capas plásticas (afinal se teve que fazer negocio com o Diabo para obtê-los é bom que dure), portas lascadas, paredes descascadas, vidraças quebradas, tudo que ressoe real no dia a dia daquelas pessoas sobrevivendo de pagamento em pagamento. As roupas demonstram a dignidade e austeridade daqueles indivíduos, facilitando nossa imersão dentro daquele microcosmo.

Um Limite entre Nós, lida com limites que seus personagens se auto-impõem e também aqueles aos quais são impostos, mas as “Cercas” dos quais decidem deliberadamente fugir ou se prenderem é que inevitavelmente irão definir a história de suas vidas.

Nota: ★★★


Depois de um certo tempo sem escrever críticas aqui no site (me dedicando mais ao Podcast), estou de volta para falar sobre esta nova comédia romântica do cinema nacional 'O Amor no Divã'. Estrelado por Zezé Polessa, Daniel Dantas, Fernanda Paes Leme e Paulo Vilhena, o filme marca a estréia (no cinema) de Alexandre Reinecke, um conceituado diretor de teatro que dirigiu, entre outras peças, Sua Excelência, o Candidato, Os 39 Degraus e Toc Toc.

No longa, Malka Stein (Zezé Polessa) é uma renomada psicóloga e terapeuta especializada em realizar terapias de casal e guiar casamentos para um lugar melhor. No entanto, após trinta anos do seu próprio casamento e com a chegada de um novo casal ao seu consultório, Malka começa a perceber que ela mesma pode estar precisando de uma terapia de casal.

Com roteiro de Juliana Rosenthal, 'O Amor no Divã' é uma comédia romântica comum, que mescla o humor das comédias nacionais com as comédias românticas americanas. O filme consegue se aproximar da rotina de um casal normal, mas sempre apresentando com bom humor para o público. Ainda mais quando enfoca as discussões entre os cônjuges e os motivos pelos quais elas surgem. Difícil não lembrar de “Separados pelo casamento” nesse sentido.

O filme não consegue fugir dos clichês recorrentes nas comédias românticas, mas mesmo assim consegue tirar boas risadas. Reinecke conseguiu dar um bom ritmo ao longa, o que ajuda bastante na espontaneidade dos protagonistas.


Das atuações posso falar que Zezé Polessa se destaca bem, mas senti que suas falas tinham muitas piadas prontas, sabe... não sei explicar... é como se você visse a piada vindo lá na esquina. Porém, a experiente atriz sabe fazer os momentos de humor soarem naturalmente. Daniel Dantas, como posso dizer? É o Daniel Dantas. Ele está ali como o mesmo personagem que está habituado a fazer, o corôa certinho, comportado e de fala mansa. Fernanda Paes Leme também está bem no filme, tendo uma boa química com Paulo Vilhena. Esse eu quero destacar aqui. Confesso que não sou muito fã do trabalho dele como ator. O único trabalho dele que lembro de primeira é da dublagem na animação 'O Espanta Tubarões', onde ele dublou(muito bem) o protagonista Oscar, 'Ós' para os mais íntimos. Porém, confesso que me surpreendi com o Paulo no filme, na verdade ele carrega o filme nas costas. TODOS os momentos mais engraçados do filme, foram protagonizados por ele. Observe bem, eu disse os MAIS engraçados. Teve outros momentos divertidos protagonizados pelos ouros atores, mas os do Vilhena foram de longe os mais divertidos.

Sobre toda a história do filme, achei que poderiam ter se aprofundado mais nos dilemas que a maioria dos casais passam. Eles estão lá, mas não de forma mais intensa. Mas, se trata de uma comédia romântica, portanto não há a necessidade ou obrigação de ser um filme de auto-ajuda. Não espere isso.

Por fim, o final poderia ter sido um pouco melhor, mas caímos no velho clichê de sempre. Apesar disso, O Amor no Divã é um filme divertido e que deixa várias reflexões sobre a terapia de casal, do que vale a pena mudar, aceitar, preservar, relevar, continuar ou abandonar.

Nota: 3/5

PS.: As músicas que Zeca Baleiro compôs  especialmente para o filme são ótimas. Lembram muito as músicas de Toy Story e Vida de Inseto.

A estréia nacional de 'O Amor no Divã' é dia 8 de dezembro. Confiram o trailer abaixo.


Fala meu povo, mesmo eu achando que não voltaria aqui, parece que alguém está querendo me deixar fixo no site, né William? E então surgiu a ideia de fazer críticas com o olhar de alguém que não é crítico de cinema e tão pouco entendedor das firulas da sétima arte...

Então, dessa vez participei da cabine de imprensa do filme 'Jack Reacher – Sem Retorno', da Paramount, filme baseado no livro de Lee Child (que à propósito ganhei ao assinar minha folha de presença), que vendeu mais de cem milhões de cópias em todo o mundo, e que tem o já cinquentão Tom Cruise como ator principal dessa trama com uma ideologia no mundo da espionagem, mas com uma pegada mais séria e longe de parecer um Missão Impossível da vida. É também o segundo filme da franquia que teve seu início em 2012 com o filme Jack Reacher – O Último Tiro, e que trouxe para as telas a linguagem bem definida do escritor citado lá em cima.

Pois bem, antes de falar do filme eu tenho que explicar uma coisinha, eu não leio livros. Já li muito, mas hoje em dia não tenho tido muita paciência e sei que isso é um péssimo hábito, que sinceramente verei se mudo em breve. E quando vi o trailer deste filme em questão eu recebi uma dica do amigo Marcos Moreira, do site Sabre na Nós, para ler os livros da série, pois segundo ele eu me interessaria muito e gostaria de todos. E o que eu fiz??? NADA!!!! Não li nenhum livro e ao invés disso fui ver o primeiro filme da série e acabei lembrando que eu já tinha visto grande parte dele e é aí que começa o problema.

Ao ver, ou rever o filme de 2012, eu vi uma história intrigante, que prende a atenção e traz reflexões de como o filme vai se desenvolver, com reviravoltas e mudanças de linha de pensamento que conforme vai se desenrolando, vai te deixando com vontade de ver até o fim pra saber o que acontece. A diferença entre o primeiro e o segundo é que o ritmo do segundo filme cai vertiginosamente a ponto de me fazer olhar para o relógio várias vezes durante o meado da película.
“Ah Clayton, pra quem não é crítico você tá chato pra caramba hein?!?!” Não diria chato, talvez o meu erro foi ver o primeiro tão em cima do segundo e acabar com a sensação de que estragaram o filme com coisas que não deveriam estar ali.

A trama começa bem, com o mesmo tipo de mistério do primeiro filme, mesmo tipo e não o mesmo mistério, pois aqui Jack Reacher (Tom Cruise) entra em contato com uma major chamada Susan Turner (Cobie Smulders – Vingadores e How I met your Mother) e começa a se engraçar com ela e até recebe ajuda dela para resolver um probleminha no início do filme, então depois de muita conversa por telefone ele decide encontra-la pessoalmente para sei lá o que...ah vá, vocês entendem dos paranauês né. Pois bem, a base onde ela fica é na verdade a antiga base onde Reacher serviu o seu país e ao chegar lá fica sabendo que a Major agora está presa com uma acusação de espionagem nas costas. E agora?? Dou as costas e vou meter o pé pois não tenho nada com isso??? Nãaaaaaaaaao, eu sou Jack Reacher e odeio injustiça, vou ajudar a moça ora bolas... é claro!

A trama começa a se desenrolar depois que ele percebe que ela foi colocada em apuros por investigar atitudes suspeitas do exército americano no Afeganistão, onde dois de seus amigos/investigadores foram assassinados a sangue frio quando tentavam alertá-la sobre tais atitudes que provavelmente deixariam alguns poderosos em maus lençóis, caso fossem descobertos... e a situação piora muito quando Reacher entra no circuito e começa a ser seguido de perto por uma parte obscura de ex-soldados americanos que hoje estão operando à margem do governo e ele, agora junto com a Major Susan, vira alvo da fúria desses mercenários sem escrúpulos... bom enredo não? Eu também achei mais aí..........aí........merrrrmão, a situação se degringola... porque? Porque Jack Reacher agora tem um calcanhar de Aquiles e que pode complicar muito a sua situação, pois uma menina de 15 ou 16 anos, Samantha Dayton (Danika Yarosh – Shameless), no momento não lembro muito bem, aparece tentando reconhecer uma possível paternidade e traz à tona sentimentos que o nosso herói não sabia que tinha em seu coraçãozinho. Sabe o que é pior? É que o famoso e destemido ex-militar começa a ter sentimentos de pai para com a menina e a gente começa a ter o tal sentimento de... “ih já vi isso antes...” e é aí que eu quero reclamar do filme!

Entramos na parte mais maçante e chega a ser chata do filme, momentos em que olhando ao meu redor, somente os fãs dos livros estavam se divertindo de alguma forma, pois eu não. 

Eles (e quando digo eles, ponho todos no mesmo saco, o escritor e os produtores do filme bem como a sua direção) não conseguiram passar e real ideia de como seria um cara irreal, acordar para a realidade de ser humano, e enfim perceber que o andarilho sem caminho, pode hoje ter que se apegar a algo tão distante como ter responsabilidades com um filho ou filha, que é o caso aqui! E é pra mim aqui o maior erro do filme, tentar humanizar um personagem sem espaço para isso, ainda mais com a atuação de Tom Cruise no primeiro filme, claramente tentando separar sua vida do herói de missão Impossível e ele realmente consegue isso, aí vem o escritor e insere a tentativa de frear o personagem com conflitos que para o filme só tem uma justificativa, tentar dar um final com mais certeza de ação, pois o meio do filme quase cagou completamente toda história!

Entramos em um período que como eu já disse, chega a dar um pouco de sono pois o clima de tensão do tipo: “Ei não vacila não, se não a gente morre!”, vai se esvaindo e se transformando numa DR bem chatinha em que o nosso herói fica à mercê de duas mulheres, uma, super-feminista e a outra super mimada e em alguns momentos burra mesmo, que não consegue entender a gravidade de tudo aquilo que está rolando ao seu redor, mais demora...........demora a perceber que a qualquer momento vai dar “M” se ela não mudar de atitude, mais até isso acontecer, a gente passa pelo maior momento de turbulência do filme, a afirmação do laço de amizade dos três personagens, se fechando pra ganhar o jogo, pois se fosse comigo vou te contar uma coisa... duvido que ia ficar dando os moles que esse povo dá.

No último momento do filme acontece aquele tipo de enredo que se você for bem espertinho, vai perceber de longe o que está prestes a acontecer e nem mesmo o fim dos personagens te deixa com emoções a ponto de fazer você querer ver novamente o filme ou ficar feliz com o fim dele, a ponto de lembrar que esse filme pode ser completamente esquecível daqui a alguns dias... isso mesmo, sou mais o primeiro, de longe, e espero que eles entendam isso logo e parem de tentar mudar o que deu mais certo no primeiro. 

Infelizmente se você esperava palmas e fogos, lamento é apenas mais um filme descartável, e olha que fui com a mente aberta e nem quis ler o livro pra não mudar minha atitude com relação ao filme, sabe, daqueles que leem o livro e todo o resto vira estrume? Pois é, nem assim meus queridos, nem assim!!!!

Nota do filme 2,2 / 5